Fundamentação Teórica

 II – Análise da metodologia que sustenta o projeto – Problem Based Learning (PBL).

O mundo das metodologias de ensino é, hoje em dia, um verdadeiro “Universo” de diferentes teorias que se sucedem em catadupa e invadem os sistemas de ensino a um ritmo que estes têm muita dificuldade em acompanhar. Umas mais inovadoras, outras mais excêntricas, algumas com um teor científico muito importante, e grande parte delas com bases sólidas e, de uma forma geral, credíveis.

A escolha e o desenvolvimento de uma determinada metodologia devem ser sustentados em vários parâmetros, como a adequação às idades e realidade dos alunos; o desenvolvimento científico da metodologia; as características físicas dos espaços; ou os resultados apresentados pela metodologia, etc.

Na obediência passiva ninguém se prepara para as várias resoluções da vida. (…) Uma nação sem originalidade, que nada cria, inventa e descobre, e apenas vive de empréstimos materiais ou espirituais, se, (…) ainda conserva a sua autonomia, não está longe de perdê-la” Carvalho (1995: 556) in Pinheiro (2008)

Tendo em atenção esta linha de pensamento, para o desenvolvimento do projeto i9Atlântico, a escolha da metodologia recai sobre o Problem Based Learning (mais à frente denominada por PBL). É considerada uma metodologia inovadora e que apresenta, na sua génese, um conjunto de pressupostos que visam desenvolver nos alunos competências essenciais à sua formação e plena integração numa sociedade cada vez mais competitiva e global, onde a originalidade e a capacidade de criação, inovação e descoberta são competências fundamentais.

Segundo Delisle (1997), a metodologia é inicialmente desenvolvida por Jonh Dewey, que acreditava que os “professores deviam ensinar apelando aos instintos naturais dos alunos para investigar e criar”. Por reconhecer importância a esta ideia, Howard Barrows, médico e professor de medicina na Universidade de McMaster, em Ontário, Canadá, começou a desenvolver métodos de ensino para os seus alunos tendo como base a resolução sucessiva de problemas. O autor defende que se deve apresentar um problema aos alunos, mas sem lhes facultar toda a informação, pedindo-lhes que desenvolvam questões apropriadas e produzam o respetivo plano para resolver o problema. Com a aplicação da metodologia, considera-se que são, também, desenvolvidas as capacidades dos alunos para o alargamento e a progressão do conhecimento, de forma a manterem-se atualizados num mundo que muda e evolui a uma velocidade cada vez maior. Para “Powell (2000), a metodologia PBL desenvolve um conjunto de competências reconhecidas por Bolonha e que são consideradas fundamentais numa dimensão europeia ou global do ensino. Segundo este autor, estas competências podem agrupar-se em três grupos distintos: competências técnicas, sociais e de autodesenvolvimento. Delisle (1997) parece seguir a mesma linha de pensamento ao referir que “na generalidade os discentes precisam de aprender uma base de conhecimentos essenciais (informação essencial); ter capacidade para utilizar, eficazmente, os conhecimentos em situações-problema dentro e fora da escola (compreensão) e ter capacidade de alargar ou aperfeiçoar esse conhecimento, desenvolvendo estratégias para lidar com problemas no futuro (uso de conhecimento ativo) ”. O autor considera, ainda, que o PBL funciona bem com todo o tipo de alunos, sendo ideal para turmas heterogéneas, onde os alunos possam mobilizar os seus diferentes conhecimentos em prol da resolução dos problemas com que o grupo de trabalho se deparar.

O PBL é, sem dúvida, uma metodologia assente numa aprendizagem baseada em problemas, na participação empenhada dos alunos e na interdisciplinaridade. Ao pedir aos alunos que resolvam um determinado problema como por exemplo: um bairro social vai ser construído em Pinhal de Frades. Vocês são uma comissão de análise e apoio que deverá identificar os custos monetários e sociais da implementação do referido bairro nesta localidade. Com a resolução deste problema e a consequente apresentação dos resultados, os alunos vão desenvolver competências e conhecimentos de várias áreas disciplinares. A matemática será desenvolvida no cálculo dos custos de implementação e as ciências sociais e humanas, como a Geografia, na decisão de localização do referido bairro ou a capacidade de comunicação, aquando da apresentação dos resultados obtidos.

Este tipo de trabalho permite aos alunos desenvolverem as suas aprendizagens partindo das suas escolhas e da cooperação com os restantes elementos dos grupo e todas com todas as pessoas ou entidades que contactar.

Outro elemento importante na “equação” do processo de ensino-aprendizagem é, sem dúvida alguma, o professor, tendo este papéis e funções muito distintas nas diferentes metodologias. Nas metodologias mais “transmissivistas”[1] o professor é o “centro” de uma sala de aula, concentrando a sua área de ação muito perto da sua secretária, do quadro ou do material tecnológico de apoio, sendo esta considerada a sua “zona de conforto”. Em PBL, o professor apresenta um conjunto de características muito diferenciadas. Em primeiro lugar, “perde” a sua “zona de conforto” passando para uma posição secundária na sala de aula, ao localizar-se na periferia de todo o grupo de trabalho. Esta alteração de posicionamento poderá ser desconfortável para muitos docentes. Contudo, permite ao docente realizar uma das suas funções mais importantes do PBL, que é a observação dos alunos a desenvolverem o seu trabalho. A observação atenta de todos os grupos de trabalho vai permitir ao docente avaliar o desempenho de todos os alunos, mas mais importante ainda, vai permitir ao docente obter informações úteis que poderá utilizar na orientação do trabalho a desenvolver por cada um dos grupos. Criando uma analogia futebolística, o trabalho do docente poderá ser equiparado ao trabalho de um treinador de futebol, que apesar de não jogar e se encontrar na periferia do campo, tem uma influência muito grande na equipa através das indicações e orientações que vai transmitindo para dentro de campo. Em PBL, o trabalho do professor realiza-se essencialmente nos “bastidores”, quer seja na fase de preparação dos problemas a fornecer aos alunos, quer seja no desenvolvimento do processo onde o seu papel de “guia” ou orientador é o máximo de protagonismo que terá, pois todo o trabalho é desenvolvido pelos alunos.

 Implementação teórica do Projeto (Problemas a desenvolver)

A análise prévia e sustentação teórica de qualquer projeto é, sem dúvida, uma das suas principais fases. Para se obter sucesso é necessário elaborar de forma estruturada e clara toda a planificação e definir os objetivos a atingir. Pretende-se, nesta fase do projecto, construir e apresentar um conjunto de problemas que se pensem ser significativos para os alunos e definir claramente os objetivos ou metas de cada um dos problemas.

Este projeto é implementado nas diferentes turmas do 6º ao 8ºº ano de escolaridade desde do ano letivo 2013/2014. Por se considerar que as turmas são diferentes entre si, e que este conjunto de alunos apresenta idades muito diferenciadas opta-se pela aplicação de problemas diferenciados em cada uma das turmas.

O projeto prevê a aplicação e desenvolvimento de dois problemas que podem ser fornecidos pelo docente ou criados pelos alunos em função das diferentes situações. Os problemas desenvolvidos em cada um dos anos letivos pelas diferentes turmas pode ser consultado no separador “Problemas a desenvolver”.

[1] Paradigma das metodologias da educação onde o professor é detentor do conhecimento e transmite-o aos alunos.